Tratamento Cirúrgico da Macroglossia



INTRODUÇÃO
A língua é um órgão de grande importância na deglutição e na fonação, encontrando-se diretamente relacionada à oclusão, ao desenvolvimento do esqueleto facial e ao crescimento ântero-posterior do processo alveolar.
A Macroglossia é uma doença que possui uma etiologia múltipla, classificada como verdadeira, quando há o alargamento ou crescimento excessivo da língua, e como relativa, quando há um desequilíbrio entre o tamanho da língua e da cavidade oral, resultando em espaço insuficiente para a estrutura em questão. A macroglossia pode ser congênita ou adquirida.
A macroglossia verdadeira pode ter diversas origens: hipertrofia muscular idiopática, como na síndrome de Beckwith-Wiedemann; malformações vasculares, como hemangiomas e linfangiomas; tumores, como mioblastomas, sarcomas, fibromas e edema devido a processos alérgicos. Já a macroglossia relativa ocorre nos pacientes com síndrome de Down, que apresentam soalho de boca raso e em alguns pacientes com deformidade dento-facial. A inexistência de um método eficaz e prático para dimensionar a língua dificulta o diagnóstico da macroglossia e sua interferência na oclusão. Por essa razão, a observação de sinais e sintomas é de fundamental importância para o correto diagnóstico e para a indicação da redução cirúrgica da língua, para o planejamento do tratamento ortodôntico-cirúrgico e para o prognóstico da estabilidade pós-operatória nos casos de correção cirúrgica das deformidades dento-faciais.
Vários autores descreveram diferentes tipos de incisões para a correção cirúrgica da macroglossia por meio da glossectomia parcial. Tais técnicas cirúrgicas são divididas em dois grupos: glossectomia ao longo da linha mediana e glossectomia na região periférica da língua.



Relato dos casos.
Caso I
Paciente com 17 anos, gênero feminino, apresentando deformidade dentofacial e má oclusão classe III de Angle. Ao exame clínico da face, os autores observaram: interposição crônica da língua entre as arcadas dentais, dificuldade de deglutição, fonação e respiração, além de alterações dentoesqueléticas.
Tais aspectos somados à observação clínica do tamanho da língua e da cavidade oral apontam o diagnóstico de macroglossia. Foi planejada correção cirúrgica da deformidade através de cirurgia ortognática com recuo da mandíbula e avanço da maxila. Após as fixações das osteotomias LeFort I e sagital bilateral, confirmou-se o diagnóstico de macroglossia relativa devido à incompatibilidade do tamanho da cavidade oral com as dimensões da língua. Optou-se pela técnica de glossectomia parcial no mesmo tempo operatório, visando à redução do  comprimento e da largura lingual. Realizada incisão combinada da região mediana posterior e anterior descrita por Egyedi e Obwegeser, e sutura por planos com fio 3.0 absorvível. Após seis meses de glossectomia parcial a paciente não apresenta sequelas.

Planejamento da incisão : Egyedi e Obwegeser

Imagem trans-cirúrgica após ressecção

Sutura por planos


Pós-operatório de 6 meses



Paciente com 18 anos, gênero masculino, com deformidade dentofacial e má oclusão classe III
de Angle. Assim como no caso I, ao exame clínico da face, os autores observaram: interposição crônica da língua entre as arcadas dentais, dificuldade de deglutição, fonação e respiração, além de alterações dentoesqueléticas.
Tais aspectos somados à observação clínica do tamanho da língua e da cavidade oral corroboram com o diagnóstico de macroglossia.
Foi realizada cirurgia ortognática para correção da deformidade por meio de recuo de mandíbula e avanço de maxila. Após fixação das osteotomias LeFort I e sagital bilateral, confirmou-se espaço insuficiente para a língua dentro da cavidade oral.
A macroglossia relativa foi corrigida com a técnica de glossectomia parcial por meio de incisão em V, no ápice lingual, pois havia excesso, apenas, no comprimento do órgão em questão. Assim como no caso anterior, a sutura foi feita por planos com fio 3.0 absorvível. No pós-operatório de seis meses da glossectomia parcial, o paciente não apresentou sequelas.

Planejamento da incisão

Foto trans-cirúrgica após ressecção

Sutura por planos

Pós-operatório de 6 meses


A indicação da glossectomia parcial é motivo gerador de controvérsias devido à dificuldade que existe no diagnóstico da macroglossia relativa. Vários são os critérios utilizados para este diagnóstico: observação clínica da discrepância entre o tamanho da língua e da cavidade oral; mensuração lingual de forma direta ou indireta; interposição crônica da língua entre as arcadas dentais; presença de aspectos clínicos e cefalométricos, como: mordida aberta, prognatismo mandibular, má oclusão classe III, aumento transversal do arco dental e instabilidade do tratamento ortodôntico eortodôntico-cirúrgico.
A indicação do tratamento cirúrgico baseia-se na presença das principais consequências da macroglossia: dificuldade de deglutição, fonação e respiração; alterações dentoesqueléticas pela ação excessiva da língua nas estruturas adjacentes e problemas psicológicos associados à estética. Alguns autores recomendam o tratamento ortodôntico e ortodônticocirúrgico inicialmente e indicam a glossectomia parcial, se houver recidiva causada pela ação da língua.
O tratamento ortodôntico-cirúrgico altera as estruturas esqueléticas e os tecidos moles orofaciais, por isso observamos que a cirurgia ortognática com recuo de mandíbula provoca, em sua maioria, diminuição do tamanho da cavidade oral, o que pode gerar falta de espaço para a língua, mesmo esta tendo dimensões normais. Quando antecipamos no pré-operatório ou observamos no transoperatório a incompatibilidade de tamanho entre a cavidade oral e a língua, pode ser previsto uma adaptação fisiológica deficiente da língua, necessitando da glossectomia parcial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A glossectomia parcial é uma técnica cirúrgica pouco frequente e com indicação restrita nos casos de macroglossia relativa. Quando bem indicada, apresenta ótimos resultados no que se refere à estabilidade do tratamento ortodôntico e ortodôntico-cirúrgico, ao reestabelecimento das funções de fonação, deglutição e respiração e à obtenção da harmonia facial, além de causar pouca ou nenhuma alteração na gustação, mobilidade e sensibilidade lingual.

Referência:
Lopes K.M. Tratamento cirúrgico da macroglossia: relato de 2 casos. Rev. Cir. Traumatol. Buco-Maxilo-fac., Camaragibe v.9, n.1, p. 9 - 14, jan./mar. 2009

3 comentários

Click here for comentários
Anônimo
admin
20 de março de 2015 às 14:20 ×

Tenho uma filha de 12 com esse problema, gostaria de saber se tem uma idade específica para fazer essa cirurgia.

Reply
avatar
Unknown
admin
14 de janeiro de 2016 às 18:46 ×

Não tem idade para operar. É preciso analisar dados clínicos e realizar cirurgia adequadamente.

Reply
avatar
Unknown
admin
14 de janeiro de 2016 às 18:46 ×

Não tem idade para operar. É preciso analisar dados clínicos e realizar cirurgia adequadamente.

Reply
avatar
Thanks for your comment